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A OMISSÃO MISSIONÁRIA E A IGREJA EVANGÉLICA BRASILLEIRA

 

Por Charles Santos

 

Jesus se aproximou deles e disse: “Toda a autoridade no céu e na terra me foi dada. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinem esses novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que eu lhes dei. E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos”.Mateus 28: 18-20

 

A “omissão missionária” é um conceito que se aplica à falta de ação ou negligência da igreja em cumprir seu principal objetivo bíblico de pregar a palavra a todas as nações para que Deus seja adorado entre todos os povos. No contexto brasileiro, essa questão tem sido discutida à luz do rápido crescimento das igrejas evangélicas e protestantes, contrastado com a limitada atuação missionária transcultural, especialmente entre grupos não alcançados dentro e fora do país.
“Qual é a principal tarefa da igreja? Em resposta a esta pergunta, temos ouvido: “Missões é a principal tarefa da Igreja” ou “Se a Igreja não é missionária, então não é Igreja”. Não há dúvida, de que missões é uma prioridade da Igreja, mas não é a prioridade última. Na verdade, a Adoração a Deus o é. E isto porque Deus é o nosso alvo, e não o ser humano. John Piper diz que quando esta era terminar e representantes de toda raça, tribo e nação estiverem dobrados diante do Cordeiro de Deus, a obra missionária não mais terá razão de existir na igreja. Mas o Culto, continuará a existir. [2] Quando chegarmos ao fim dos tempos e todos os redimidos estiverem diante do trono de Deus, missões não serão mais necessárias. Missões representa apenas uma necessidade temporária da Igreja, mas o Culto a Deus permanecerá para todo o sempre.” Segundo PIPER (2001), p.13, apud REIS (2005).

O crescimento evangélico no Brasil é um dos mais rápidos do mundo. Desde a chegada dos primeiros missionários protestantes entre os séculos XVII e XIX, o número de evangélicos aumentou de forma significativa, especialmente nas últimas décadas. Dados do censo do IBGE (2022) mostram que os evangélicos representam aproximadamente 31% da população brasileira. Apesar deste crescimento, contudo, a atividade missionária transcultural ainda enfrenta desafios significativos, muitas vezes limitados à atividade local ou dentro de um contexto denominacional particular.

Contudo, embora tenha benefícios, esse crescimento numérico não implica, necessariamente, em crescimento proporcional de vocações missionárias enviadas aos contextos transculturais, tanto no Brasil quanto fora dele. Há autores que defendem que a igreja brasileira, voluntária ou involuntariamente, não tem desempenhado plenamente o seu papel no aspecto biblicamente amplo da Missio Dei no mundo, e isto, se configura um tipo de omissão missionária.Diversos fatores contribuem para essa omissão missionária no Brasil. Entre eles, destacam-se:

• Falta de visão missionária: Além disso, muitas igrejas locais não priorizam a missão transcultural, focando no crescimento interno e no trabalho em sua própria comunidade. A falta do ensino bíblico sobre missões e da consciência da necessidade de alcançar esferas não evangelizadas leva ao reducionismo missiológico e é outro desafio no Brasil.

• Recursos limitados: Enquanto no país se tenha muitas igrejas, o financiamento e a capacitação do envio e do apoio de missionários no campo é limitado por prioridades erradas e gestão de recursos deficientes. Mais uma vez, devemos considerar a característica da doação do país devido à desigualdade econômica existente, entretanto, não podemos deixar de considerar que a igreja evangélica brasileira é uma das sete mais ricas do mundo.

• Foco em necessidades internas: O pano de fundo social e econômico do Brasil, marcado por pobreza e desigualdade e reducionismo teológico sobre a missão da igreja, faz com que muitas igrejas se voltem para atender às necessidades imediatas da comunidade em que elas se encontram. Esse foco reduzido pode desviar a atenção da responsabilidade global da igreja em missões.

• Fragmentação denominacional: Apropriadamente, a diversidade denominacional no protestantismo brasileiro, impõe resistência ao dificultar a colaboração missionária interdenominacional. A multiplicidade de tradições, doutrinas e histórias entre denominações limita a capacidade de uma nação de coordenar esforços e recursos conjunto para projetos de missões.

Todo cristão e denominações necessitam olhar para grande comissão com lentes amplas e especiais para os povos não alcançados. De acordo com o Joshua Project, um dos maiores desafios para a igreja global – e inclusive para a igreja brasileira – é a evangelização de povos não alcançados. Os povos não alcançados são grupos etnolinguísticos que têm pouco ou nenhum acesso ao Evangelho. Embora o avanço missionário tenha sido significativo em muitas áreas, existem milhares de povos que ainda não são evangelizados, e muitos deles vivem em lugares de difícil acesso, como no Oriente Médio, Ásia Central ou norte da África.

A missão entre os povos indígenas no Brasil é uma questão importante. O país abriga centenas de tribos indígenas, mas muitas não foram fortemente influenciadas pelo evangelho. A igreja brasileira não abraçou plenamente o chamado missionário, como evidenciado pelo baixo número de missionários enviados para essas regiões e grupos étnicos.Apesar dos desafios, existem sinais de que mudanças estão acontecendo; além disso, está surgindo uma crescente mobilização missionária de igrejas brasileiras. A Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) e outras organizações missionárias têm se esforçado para conscientizar, mobilizar e treinar igrejas e missionários a fim de cumprir a Grande Comissão.

• Educação e Mobilização: O preparo teológico e missionário nas igrejas é um fator decisivo para a superação do panorama de omissão. Os líderes cristãos têm enfatizado a necessidade de cursos e seminários que suscitem vocações missionárias e preparem os crentes para o ministério transcultural.

• Parcerias e Cooperação: Para superar as divisões denominacionais, é muito importante que as igrejas brasileiras trabalhem em atividades missionárias conjuntas e compartilhem oportunidades e possibilidades. As relações internacionais também foram incentivadas, com missionários brasileiros enviados para trabalhar com outros missionários em diversas partes do mundo.

A omissão missionária no Brasil é, reconhecidamente, um desafio real, embora não insuperável. A igreja brasileira, com sua rica diversidade e, principalmente, com seu grande número de membros, tem um potencial imenso para impactar o mundo. Contudo, para que isso se concretize, é necessário um profundo despertamento missionário, um despertar que ultrapasse o local e que aceite o desafio de levar o Evangelho até os confins da terra.

 

Referências Bibliográficas:

COSTA, Valdir Steuernagel. Missão Integral: oReino de Deus e a Igreja. São Paulo: EditoraUltimato, 2015.

HAYES, Robert. Mission in the 21st Century: Exploring the Five Marks of Global Mission. London: SPCK, 2016.

MOREAU, A. Scott, Corwin, Gary B., e McGEE, Gary R. Introducing World Missions: A Biblical, Historical, and Practical Survey. Grand Rapids: Baker Academic, 2015.

MOTT, Luiz Carlos Ramos. Missões no Brasil: Desafios e Perspectivas. São Paulo: Hagnos, 2013.

PIPER, John. Alegrem-se os Povos – ASupremacia de Deus em Missões. São Paulo ,SP, Editora Cultura Cristã: 2001.

REIS, Gildásio. Missões ou Adoração? Uma Perspectiva Reformada de Missões! Artigo:https://www.monergismo.com/ textos/missoes/missoes_adoracao_gildasio.htm

Acesso em: 18/08/2024.

WINTER, Ralph D., e HAWTHORNE, Steven C.Perspectives on the World ChristianMovement. Pasadena: William Carey Library,2009.
 

 

 

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